Anúncios de empréstimo facilitado, sem burocracia e com recebimento de dinheiro na hora têm se tornado cada vez mais comuns e espalham-se entre mensagens de celular, publicações nas redes sociais, outdoors ou cartazes colados em viadutos, muros e postes. A oferta parece tentadora na hora, mas o cidadão que não tomar cuidado pode cair em uma cilada e acabar mais endividado do que antes. Isso porque muitas dessas ditas “empresas” não têm cadastro junto ao Banco Central (BC) para realizar o procedimento financeiro e podem cobrar juros abusivos e acima do combinado, conforme denúncias de consumidores recebidas pelo F5 Online.
A reportagem entrou em contato com um desses anunciantes de empréstimos para simular interesse e entender como acontecem as negociações. É perceptível como a celeridade prometida e a ausência de qualquer processo burocrático funcionam como gatilhos para conquistar a confiança do interessado, muitas vezes já com a corda no pescoço.
A proposta discutida foi de um empréstimo de R$ 1 mil reais em 12x de 104,99 no cartão de crédito, mas os valores disponibilizados pela referida empresa podem ser bem superiores. Na oferta em questão, a pessoa teria que arcar com R$ 259,88 de juros, uma porcentagem de 20,62% do valor total contratado.
Funciona dessa forma: escolhido o valor, alguém pode se deslocar até sua residência ou você vai pessoalmente até a sede da credora passar o cartão na maquininha, assim como uma compra feita em loja física ou na internet, em que o comprador fica quitando as faturas a cada mês.
O dinheiro do empréstimo, em tese, é para ser entregue na hora, mas são diversos os riscos que o consumidor se sujeita, explica o titular da Secretaria Municipal de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-JP), Rougger Guerra.
Agiotagem e crime contra o sistema financeiro
Guerra afirma que a prática constitui agiotagem e crime contra o sistema financeiro nacional “porque apenas instituições financeiras credenciadas no Banco Central podem efetuar qualquer tipo de operação de crédito. Essa modalidade que nós estamos vendo poluir inclusive visualmente a nossa cidade, que é essa modalidade de empréstimos através do cartão de crédito, nada mais é do que uma operação de agiotagem”, pontua.
As empresas também devem cumprir uma série de exigências determinadas por normas do sistema financeiro nacional para promover serviços como empréstimos. O F5 Online consultou os sistemas do BC para verificar se a “empresa” que entramos em contato (com anúncios espalhados em diversos pontos de João Pessoa) possui algum cadastro na plataforma, mas não há nenhum registro.
Rougger ressalta que a prática ilegal vem sendo bastante realizada por pessoas físicas, que hoje têm acesso mais facilitado às maquinetas de cartão de crédito, ou ainda por empresas em nome de terceiros e laranjas.